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Bordeaux nota 10

Começa agora a venda antecipada de vinhos da primorosa safra de 2010. Um evento de grandes proporções na boca e no bolso




Antes de chegar às garrafas, os vinhos de Bordeaux são objeto de uma frenética disputa que joga seus preços nas alturas
A partir de segunda, 11 de abril, cerca de 5 mil ávidos degustadores e compradores estarão protagonizando, em Bordeaux, aquilo que os franceses chamam de “a grande missa”: uma peregrinação de château em château para avaliar em primeira taça a safra de 2010 e comprar o vinho que ainda irá repousar nos barris por dois anos. É a chamada vente em primeur, astucioso jeito bordalês de fazer caixa antes de entregar os vinhos engarrafados.

É uma espécie de loteria à qual os compradores franceses e de 65 países se entregam com prazer, já sabendo que a safra do ano anterior permitiu sonhos de grande valorização para daqui a alguns anos. Claro, os produtores atiçam os homens e mulheres que lá estarão, prometendo o mesmo nirvana da excepcional safra de 2009. Paul Pontallier, diretor geral do Château Margaux, é um dos mais entusiasmados, dizendo que “2010 juntou-se a 2009 para oferecer vinhos que irão durar um século. Chegamos ao coração da qualidade”.

Outros bordaleses também exclamam as virtudes da última safra, dizendo coisas do tipo: “É um vinho que dança na boca... fantástico de frescor, aromas e taninos”. Tradução: todos esperam compras polpudas, sobretudo por parte de ingleses, chineses e americanos, estes retornando aos poucos após a crise em sua economia. Ausência sentida neste ano: os japoneses, normalmente grandes compradores, afetados pelo drama em seu país.
“O mundo do vinho percebeu que Bordeaux teve outro ano excepcional e a notícia se espalhou por todo o planeta”, rejubilou-se Philippe Dhalluin, diretor geral do Château Mouton Rothschild. Michel Rolland, o enólogo celebridade da região, defende esse sistema particular de vendas e antecipa que os produtores terão “margens confortáveis” este ano.

Todo esse “conforto”, porém, depende muito de outra celebridade do mundo do vinho, o crítico americano Robert Parker. Ele também estará com sua taça em riste e tanto os châteaux quanto os compradores irão aguardar com tensa expectativa as suas notas. Não basta ao vinho ser bom, ele tem de ser bom para Parker. A partir daí, do final deste mês até a última semana de junho os negócios estarão sendo fechados, com as primeiras garrafas chegando aos compradores no final de 2012.



A bela Bordeaux, ao sul da França, novamente se afirma como a capital mundial do vinho
Os grandes vinhos de Bordeaux representam o auge do negócio do vinho no mundo, muito bom para produtores e negociantes. Para os consumidores, uma ótima safra traz em si uma boa e uma má notícia: prazer garantido na taça e preços amargos nos rótulos. Como afirmou com toda a simplicidade o magnata do vinho Bernard Magrez, dono de vários châteaux, “é a lei da oferta e da procura. A raridade faz com que os preços aumentem”.